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domingo, 5 de dezembro de 2010

Pê, de "pato".

Procedia com seu plano. Programara a viagem ao Reino do Sul do Arizona, sem saber muito o que ali lhe aguardaria. Precisava de um ajudante, um companheiro, um ouvinte que entendesse o que ocorria naquele coração enquanto corriam as pernas. Percorreu todos os cantos da pequena vila, até encontrar, em domínio de um andarilho, cartas mágicas. Pensou e decidiu comprá-las. Por trás de cada carta, haviam sinais de luz, que, segundo rezava alguma lenda, diriam, dia após dia, o que deveria ser feito. Por hora achou conveniente seguir sozinho, já que  a despesa com outro viajante se tornaria demasiado cara agora depois de ter gastado parte do ouro que tinha com o jogo de ases e valetes. Parecia um bom negócio. Príncipe de respeito ficava mesmo melhor sozinho nas telas que contavam sua glórias.
Prontamente preparou o potro e partiu sem pajem ao pretendido paço pensando pesar pouco ser par da perfeição.

(continua)

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

O lado

Deste lado do rio já nevou, já fez calor.

Deste lado do rio já imaginei caminhar junto por outras beiras,

no segundo seguinte, já quis até me afogar.

Por segundos, mas quis.

Deste lado do rio a noite já foi incerta.

Deste lado, o horizonte já pareceu distante.

As águas tornam-se fogo para trazer a claridade que o límpido não tem.

Deste lado do rio, a ponte já teve de ser consertada.

Já contei todas as estações, mas uma vez claro, você acorda.

- Vê? A folha seca que cai é tão bonita quanto a rosa que ainda floresce.

- É... As águas deste lado, tão quietas.

- Sim, são calmas no horizonte.

Aniversário

Chega perto o quinto ou sexto aniversário da sua foto em minha estante.

Permanece. A simples existência acalma e faz bem sorrir.

Sem importar por hora onde realmente estejas, daqui nem torna, nem avança, não manobra.

Estabelece. A mera ausência apavora e faz mal sentir.

Não me acanho, não fico inquieto. Dizem os populares, a pressa é tua inimiga.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

O Admirável Homem das Neves

Na escola de príncipes nunca foi o primeiro da turma.
Não por falta de vontade, era mesmo desajeitado o pobrezinho.
Pobrezinho era também. Seu potro era o único marrom-acinzentado dentre os outros bravos alvos guerreiros que iriam carregar futuramente futuros paladinos. Ao menos é o que deles se esperava. Dos homens.

Tinha o estranho hábito de carregar consigo um chapéu de cowboy.
Quando lhe diziam que aquilo não era adereço de quem se preparava para tornar-se príncipe, concordava discretamente, e de bochechas rosadas seguia seu caminho, amarrotando o chapéu, pois dali o carregava com mãos ainda mais firmes.

Além do narrador, não abria segredo a ninguém sobre o porque da insistência com a peça.
Apaixonara-se pela bela princesa do Reino do Sul do Arizona.
Não contava pois sabia que dele caçoariam.

Corria por baixas vozes o terrível relato do acontecimento que marcara o Reino do Sul do Arizona. O Rei do Reino do Sul do Arizona prendera o coração de sua filha, a Princesa do Reino do Sul do Arizona.
Corria a sussurros que a pedido dela própria.

Com uma cerimonia de trancamento, diante de toda a Corte do Reino do Sul do Arizona, guardou num baú o coração da filha, e noutro baú, a chave do primeiro baú.
Tomou o vinho e a chave do segundo e enquanto durou o jantar, jurou não contar onde estaria. A chave.

A pele da princesa levava adiante o coração do jovem aprendiz. Queria ter certeza que era tão macia quanto imaginara. Gostaria também de descobrir o mistério dos chinelos da donzela. Diziam que ela os usava sempre, mesmo fazendo tanto frio no Sul do Arizona.

Seu azar as aulas de captura de dragão serem tediosas. Atenção também não dispensava à exposição das técnicas de escalagem de tranças. De nada lhe valiam.

Precisava primeiro aprender a ser chaveiro.

(continua)

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

P o ematicidade

Deus sabe que há de mudar.
Na verdade, Deus sabe mais,
que há de mudar sei eu.

Há de chover chuva clara
no acordo meu e do futuro,
sem licença para além do que cabe em nós.
Já é tomado o cuidado.

Sinceridade lembrada vistas nas mãos,
num caminhar de poucos "nãos".

Em pé, a saudade aguarda do lado de fora,
pede perdão a quem a enviou.

Problematicidade

Deus sabe que há de mudar. 
Na verdade, Deus sabe mais,
que há de mudar sei eu.

de chover chuva clara
no acordo meu e do futuro,
sem licença para além do que cabe em nós.
Já é tomado o cuidado.

Sinceridade lembrada vista nas mãos,
num caminhar de poucos "nãos".

Em pé, a saudade aguarda do lado de fora,
pede perdão a quem a enviou.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Escolhas

Tenho vontade de fazer um livro com uma coleção de clichês. Será que já existe? Fato é que muitos deles são pura perda de tempo, as quais concordamos em chamar de sabedoria popular. Entretanto, outros são bem úteis: cabem quando você se encontra numa situação comum a muitos, em que não resta nada a dizer, a não ser proclamar a velha e boa frase feita.

Clichê do dia: "o mundo dá voltas."

"O mun-do dá vol-tas.: do latim o mvndi dae voltum, sem plural: Utilizado para fazer comentário desnecessário, geralmente sobre resultado contraproducente. Ótimo para encerramento de conversas, troca de tema, podendo também ser seguido de "mudando o assunto de pato para ganso..." (ver pág. 182)."

Mudando o assunto de pato para ganso, tenho estado preocupado com a troca de valores que temos presenciado ultimamente.

Vale muito mais "ter" do que "ser" nas metrópoles atuais.

A moça pode arrumar um bandido, beberrão, infiel, mas, se o cara tiver grana, ah, casa-se bem.

Pra ele, homem de uma mulher só é VIA-da-GEM, bom é pegar várias e contar na roda de amigos, depois do futebol. (Aliás, mulheres, não fiquem bravas com o futebol, a gente realmente curte, e lá só rola homem, logo, só falatório. Caso você tenha problemas com o maridão, a cavidade se encontra num plano inferior, e, se tem uma hora na vida que um cara não está pensando em mulher, definitivamente é jogando/assistindo futebol.)

De qualquer forma, não somos presos a nada, nem quando deveríamos ser, no mínimo, à  própria consciência, e, mesmo sabendo da responsabilidade envolvida em cada ato, o livre arbítrio é a maior das leis estabelecidas.

Isso te dá o direito de mudar suas escolhas caso a percepção tenha sido também alterada. A única consideração nesse caso fica sobre o aviso prévio, caso sua antiga escolha tenha gerado expectativa em outrem. ( Saint-Exupéry rules.)

"No I´m not the man I used to be lately
see you meet at an interesting time
If my past is any sign of your future
you should be warned before I let you inside" (Mayer, John. I Don´t Trust Myself (with loving you))

É, o mundo dá voltas...

Vida longa e saúde à liberdade, a maior conquista de um homem.

domingo, 15 de agosto de 2010

O Domingo e o Palanque

Domingo, primeiro dia da semana, aquela hora em que você pensa em começar a descansar, e, logo depois, é remetido ao que virá durante mais uma longa jornada ao ouvir a musiquinha do tal do show da vida, ou as conversas nas mesas-que-nunca-são-redondas.
Bom momento para refletir, e em ano de eleição, mais sugestivo ainda.
Você já parou pra pensar que o cidadão que você elege para comandar o Estado teria que ser muito responsável pelo seu domingo? Na verdade, sendo ele bom ou ruim, ainda é sim responsável por boa parte do seu dia. Se você pode levar seu filho ao parque depois de alimentá-lo dignamente, se não tem receio de ter seu carro roubado, por exemplo, agradeça também ao homem de terno e gravata que lhe prometeu milhares de coisas ao subir no palanque montado em sua cidade, se é que o prezado se deu a esse trabalho.

O que mais me impressiona, na verdade, é o fato de os candidatos políticos discursarem apenas sobre soluções à curto prazo. Maior segurança nas favelas, criação de novas rodovias, construção de mais hospitais. Longe de mim pensar que essas e outras medidas não são necessárias, mas porque é que ninguém, nem em propaganda, nem em debate algum, vem a público dizer suas propostas para a única saída que realmente mudaria um país: a educação?

Educação que na realidade, vai muito, mais muito além de construção de novas escolas. Já existem tantos prédios, não precisamos de mais concreto abarrotados de crianças e jovens dopados com um saber que de concreto, o qual realmente nos interessa, não tem nada.

Precisamos de um povo formado por pessoas conscientes, de gente que seja capaz de raciocinar, e isso se aprende aonde? Na escola? também, mas principalmente, em casa, na base de qualquer sociedade, independente de seu nível de desenvolvimento: a família.

Chegamos num momento em que o interessante é aprovar qualquer aluno para que, ao subir no palanque (lembra dele?), seja possível dizer "o meu governo apurou o menor índice de reprovação da história". Isso vende. Dizer que o meu governo formou o maior número de pessoas-zumbis não soa muito bem.

Essa questão responde todas as seguintes. Fiquei impressionado esses dias ao ver a incrível quantidade de pessoas não capacitadas empregadas em diversas atividade prestadoras de serviço e ainda assim, o índice de desemprego ser assustador. Paradoxo? Não. A grande parte da nossa população, infelizmente, há alguns anos, já não tem condições de se desenvolver, e hoje, um mar de gente briga por posições escassas e o resultado é exatamente este, pessoas não capacitadas empregadas em diversos lugares e outras, tão despreparadas quanto, ainda sem trabalho.

Com educação digna, existiriam mais pessoas qualificadas, que poderiam exercer mais cargos, ganhando mais dinheiro, comprando mais, logo, fazendo com que a indústria produzisse mais, gerando mais empregos, menor violência e reduzindo drasticamente o número de promessas que seriam necessárias nos palanques daí em diante.

Não quero ser responsável por nenhuma teoria da conspiração, não gosto da ideia de incitar rebeldia sem causa nobre, mas é realmente revoltante ver qualquer vítima indefesa.

Imagino que, diante disto, aparecerão alguns defendendo que o próprio povo deveria se unir e lutar contra isso. Como o farão se o povo, o mesmo que deveria se unir, não tem consciência disso. Não é de hoje, Aristóteles já explicou há mais de dois mil anos que não se chega à razão quando se vive preso à paixão. Num caráter menos filosófico, não existe um surgir espontâneo da razão, já que quem não há possui, simplesmente não sabe disso.

É possível entrar de casa em casa e explicar isso para todas as famílias brasileiras, numa tentativa de fazer nascer uma consciência em massa, esperando que depois de uma visita esclarecedora as pessoas passassem a agir de modo diferente? Obviamente então, isso tem que ser feito através da educação, nas escolas, formando caráteres e devolvendo a legitimidade e sentido do que é a educação e do para que ela existe.

Acontece que essa mudança não seria vista em quatro ou oito anos, que é o tempo do mandato do nosso amigo de terno e gravata. Oras, para que fazer obras que não possam ser vistas, ou qual o sentido de pensar num bem comum, se a honra não puder ser atribuída à mim? Assim pensam os grandes homens, não é mesmo, amigos?

O terno e a gravata são bem caros também, e quem os veste, tem dinheiro o bastante para assegurar muitos próximos domingos de seus familiares.

Quanto menos descobrirem, quanto menos consciência tiver o povo, menos risco para eles.

Domingo é mesmo um bom dia para refletir.

Quanto a mim, espero fazer a minha parte, e digo-lhes, não quero e não vou perder a esperança de ver este quadro mudar, até que não seja mais necessário passar domingos escrevendo posts como este.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Gênese

Perguntei à minha mãe se eu podia escrever, ela disse que sim, desde que não deixasse nada espalhado ou bagunçado pela casa.
Tanto a ideia quanto a vontade disso aqui são antigas, de novo, o ânimo e a disposição para começar. O blog não terá um tema único por um motivo simples: não entendo de assunto nenhum em profundidade suficiente para colocar a cara a tapa e discuti-los com uma eficiência aceitável. Ficaria extremamente satisfeito se conseguisse escrever um blog sobre política, filosofia ( ah, as saudosas aulas de Ciências Políticas e Teoria do Estado) mas, convenhamos, melhor tratar de assuntos mais leves e simples e deixar a complexidade por conta do que possamos pensar ou sentir através dos posts. Na verdade, esta é a grande missão, fazer desse blog um espaço para compartilhar ideias e principalmente incentivá-las. Espero que seja divertido para vocês o lerem tanto quanto imagino que será para mim escrevê-lo.
Como promessa de inauguração, pretendo atualizá-lo sempre que surgir um assunto que julgue relevante, do contrário, é mais fácil ir tomar um café e jogar conversa fora. Contudo, tenho certeza que irão surgir alguns (inúmeros, talvez) "posts-fantasmas", pouco menos sérios e de nexo duvidoso. Vale né?! Ok.
As coisas devem ir melhorando progressivamente, mas para isso, devem começar em algum ponto. Eis aqui.
Obrigado por este seu primeiro tempo gasto comigo.