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domingo, 15 de agosto de 2010

O Domingo e o Palanque

Domingo, primeiro dia da semana, aquela hora em que você pensa em começar a descansar, e, logo depois, é remetido ao que virá durante mais uma longa jornada ao ouvir a musiquinha do tal do show da vida, ou as conversas nas mesas-que-nunca-são-redondas.
Bom momento para refletir, e em ano de eleição, mais sugestivo ainda.
Você já parou pra pensar que o cidadão que você elege para comandar o Estado teria que ser muito responsável pelo seu domingo? Na verdade, sendo ele bom ou ruim, ainda é sim responsável por boa parte do seu dia. Se você pode levar seu filho ao parque depois de alimentá-lo dignamente, se não tem receio de ter seu carro roubado, por exemplo, agradeça também ao homem de terno e gravata que lhe prometeu milhares de coisas ao subir no palanque montado em sua cidade, se é que o prezado se deu a esse trabalho.

O que mais me impressiona, na verdade, é o fato de os candidatos políticos discursarem apenas sobre soluções à curto prazo. Maior segurança nas favelas, criação de novas rodovias, construção de mais hospitais. Longe de mim pensar que essas e outras medidas não são necessárias, mas porque é que ninguém, nem em propaganda, nem em debate algum, vem a público dizer suas propostas para a única saída que realmente mudaria um país: a educação?

Educação que na realidade, vai muito, mais muito além de construção de novas escolas. Já existem tantos prédios, não precisamos de mais concreto abarrotados de crianças e jovens dopados com um saber que de concreto, o qual realmente nos interessa, não tem nada.

Precisamos de um povo formado por pessoas conscientes, de gente que seja capaz de raciocinar, e isso se aprende aonde? Na escola? também, mas principalmente, em casa, na base de qualquer sociedade, independente de seu nível de desenvolvimento: a família.

Chegamos num momento em que o interessante é aprovar qualquer aluno para que, ao subir no palanque (lembra dele?), seja possível dizer "o meu governo apurou o menor índice de reprovação da história". Isso vende. Dizer que o meu governo formou o maior número de pessoas-zumbis não soa muito bem.

Essa questão responde todas as seguintes. Fiquei impressionado esses dias ao ver a incrível quantidade de pessoas não capacitadas empregadas em diversas atividade prestadoras de serviço e ainda assim, o índice de desemprego ser assustador. Paradoxo? Não. A grande parte da nossa população, infelizmente, há alguns anos, já não tem condições de se desenvolver, e hoje, um mar de gente briga por posições escassas e o resultado é exatamente este, pessoas não capacitadas empregadas em diversos lugares e outras, tão despreparadas quanto, ainda sem trabalho.

Com educação digna, existiriam mais pessoas qualificadas, que poderiam exercer mais cargos, ganhando mais dinheiro, comprando mais, logo, fazendo com que a indústria produzisse mais, gerando mais empregos, menor violência e reduzindo drasticamente o número de promessas que seriam necessárias nos palanques daí em diante.

Não quero ser responsável por nenhuma teoria da conspiração, não gosto da ideia de incitar rebeldia sem causa nobre, mas é realmente revoltante ver qualquer vítima indefesa.

Imagino que, diante disto, aparecerão alguns defendendo que o próprio povo deveria se unir e lutar contra isso. Como o farão se o povo, o mesmo que deveria se unir, não tem consciência disso. Não é de hoje, Aristóteles já explicou há mais de dois mil anos que não se chega à razão quando se vive preso à paixão. Num caráter menos filosófico, não existe um surgir espontâneo da razão, já que quem não há possui, simplesmente não sabe disso.

É possível entrar de casa em casa e explicar isso para todas as famílias brasileiras, numa tentativa de fazer nascer uma consciência em massa, esperando que depois de uma visita esclarecedora as pessoas passassem a agir de modo diferente? Obviamente então, isso tem que ser feito através da educação, nas escolas, formando caráteres e devolvendo a legitimidade e sentido do que é a educação e do para que ela existe.

Acontece que essa mudança não seria vista em quatro ou oito anos, que é o tempo do mandato do nosso amigo de terno e gravata. Oras, para que fazer obras que não possam ser vistas, ou qual o sentido de pensar num bem comum, se a honra não puder ser atribuída à mim? Assim pensam os grandes homens, não é mesmo, amigos?

O terno e a gravata são bem caros também, e quem os veste, tem dinheiro o bastante para assegurar muitos próximos domingos de seus familiares.

Quanto menos descobrirem, quanto menos consciência tiver o povo, menos risco para eles.

Domingo é mesmo um bom dia para refletir.

Quanto a mim, espero fazer a minha parte, e digo-lhes, não quero e não vou perder a esperança de ver este quadro mudar, até que não seja mais necessário passar domingos escrevendo posts como este.